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Contos-->A CASA DOS COUTOS -- 04/09/2023 - 10:44 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A CASA DOS COUTOS

A casa da Avenida Sete de Junho abrigou a família Couto por mais de cinquenta anos.  Na verdade, ela foi comprada pela família nos anos vinte pelo grande patriarca Marcelo Couto que na época era um oficial da reserva do Exército brasileiro. A casa deixou de ser habitada no ano 2000. Os velhos moradores que substituíram os Coutos viveram uma tragédia na casa. O filho pequeno do casal Tomaz e Antônia apareceu morto em seu quarto sem causa aparente. Os médicos que fizeram a autopsia alegaram que organicamente não houve motivos para a morte do rapaz: “Presumo que o rapaz faleceu de uma violenta emoção”. A família não ligou isso a casa, nem procurou saber a história do imóvel.

Antes dos Coutos a casa havia sido morada da família de um tabelião muito bem-quisto pela comarca de Lagarto. As pessoas comentam que foi ele quem construiu a grande mansão que no início do século vinte se tornara a mansão dos Coutos. As bocas fofoqueiras dizem que na construção alguns escravos desapareceram outros foram encontrados mortos e que o Tabelião os enterrou no terreno que cerca a casa. Algumas pessoas da época diziam que o Sr. Antônio Alves era devoto de Bafomet, um demônio da Goécia, e que Antônio fazia magia negra com a nata de Campos. As outras famílias que residiram na casa tiveram problemas mentais e mortes sem explicação. Contudo a casa nunca pegou a fama de assombrada e continuou sendo cobiçada pela comunidade de Campos. Mas apesar da cobiça a casa não foi novamente habitada até o dia em que Tavares chega a Campos para implantar um negócio de cosméticos: “O Paraiso da Beleza”.

Toda casa tem uma história. A casa dos Coutos passou por sucessivas décadas sem chamar a atenção das pessoas, exceto, por sua beleza. A casa tinha dois andares. No térreo ficavam as salas de visita e de jantar. A cozinha formava um só espaço com a sala de jantar. O segundo andar tinha cinco espaços além de dois banheiros. Os espaços eram os quartos e juntamente com eles o escritório da casa onde Antônio fazia suas leituras e práticas ocultistas. O acabamento da casa era de primeira com mármores no piso e colunas, e madeira de cedro nas portas e janelas. A escada tinha seus corrimãos folheados a ouro como também os banheiros tinham peças folheadas a ouro. No hall da casa um conjunto de cadeiras de ferro bem trabalhadas com desenhos de dragões. Apesar da idade, a casa nunca perdeu o seu glamour, nem seu jardim perdeu a beleza. Mesmo sem moradores há anos o jardim e a casa permaneciam brilhando na Avenida Sete de Junho.

Tavares chegou a Campos em 2019. O rapaz procurava uma casa onde pudesse morar e pôr o seu comércio. Logo ele foi avisado da casa dos Coutos: “Vá a casa dos Coutos; fale com Lurdinha a responsável”. Com o endereço em mãos o rapaz foi conversar com a representante do imóvel. Lurdinha era a parente mais velha de seu Antônio. Este trabalhou na exatoria de Campos e amealhou muito capital e comprou a mansão.  Lurdinha era sua sobrinha. Ela limpava a casa e acendia as luzes do hall todas as noites. A moça tinha o maior cuidado com o imóvel e fazia todo final de semana uma faxina em toda a mansão. Para isso ela chamava algumas moças que a cinquenta reais dividia o fardo da limpeza:

- Bom dia! Disse Tavares a moça de olhos azuis como céu e rosto de anjo.

- Bom dia moço como posso ajudar?

- Eu quero alugar a mansão.

- O moço é daqui ou é de fora?

- Sou de Aracaju. Pretendo morar em Campos. Estou precisando de um lugar onde eu possa morar e colocar o meu comércio. Por isso escolhi a mansão.

- O aluguel é dois mil reais pagos adiantado. Recibo de água e luz todo mês na minha mão. O senhor não pode fazer nenhuma mudança nas configurações da casa. Lurdinha foi direta com o rapaz mostrando o seu cuidado com o patrimônio de sua família. Tavares pegou a chave da casa e rumou na direção da mesma para dar uma primeira olhada. O rapaz abriu o portão de ferro e caminhou para o hall. Os dragões o receberam imponentes nas cadeiras de ferro. Pareciam protetores que bravamente defenderam a casa por tanto tempo. A chave girou a fechadura abrindo a porta de cedro de dois metros. O piso de mármore de lei recebeu o comerciante que a cada segundo se apaixonava pelo local: “Que casa bonita”.

Tavares se alojou na casa dos Coutos. Em pouco tempo ele colocou seu negócio e fez propaganda nas rádios da cidade. A clientela logo apareceu. Em pouco tempo o rapaz vendia bastante e com isso a casa se tornou um lugar movimentado. As pessoas vinham comprar cosméticos e ao mesmo tempo davam uma olhada na casa dos Coutos. Isso virou uma febre em Campos:

- Mulher, você já viu a casa dos Coutos? Que coisa linda!

- Vi não, mas, amanhã eu vou lá comprar um creme e aí eu dou uma olhadinha. Assim era entre as pessoas o interesse pela casa dos Coutos.

Um ano passou muito rápido. Tavares estava muito bem de vida. O rapaz vendia muito e isso se deu pela curiosidade das pessoas em ver a casa por dentro. O imóvel tinha um ímã que atraia pessoas de todas as classes.

Certo dia uma moça que fazia a faxina encontrou uma chave que estava atrás de um armário que ficava no corredor dos quartos. Era uma chave grande que parecia abrir uma fechadura também grande. A moça deu a chave a Tavares que ficou curioso, pois ela não dava em nenhuma porta da casa. Tavares a guardou no escritório e esqueceu o assunto. A vida seguia; muitas vendas, novos amigos, e festas na casa para comemorar o sucesso do negócio. Tudo ia muito bem para Tavares e sua nova casa.

Numa noite de sexta feira treze do mês de novembro, Tavares estava na sala de visita ouvindo música. Eram nove horas. A Sete de Junho começava a se acalmar do movimento de pessoas. Os carros estavam ficando escassos e o barulho das pessoas silenciava. Tavares entregue as suas reflexões ouve uma zoada estranha. O som parecia o de alguém arrastando um corpo. Tavares se levantou para ver o que era. Mas nada viu e tornou a se entregar aos seus pensamentos. No outro dia pela manhã, ele encontrou no quintal pegadas de pés descalços. As marcas estavam em quase todo o quintal e iam dar no pé da parede da casa vizinha dos fundos. Tavares achou estranho e chamou a polícia. A Polícia, então, disse que alguém realmente poderia ter estado na casa, mas, não sabia como entraram, pois, a casa estava cercada de casas em todos os lados: “Quem sabe o senhor andou por aqui e se esqueceu”. Disse o investigador Getúlio. Apesar do ocorrido, o vendedor de cosméticos prosseguiu sua vida e adorava sua nova casa. A freguesia aumentava consideravelmente e os lucros também. Tudo era paz para o novo morador de Campos. Contudo essa paz estava para acabar. A casa antiga não tinha fossa ligada ao sistema de esgoto da cidade. A fossa encheu com o uso, afinal, foram muitos anos sem limpeza. Na verdade, mais de um século de uso foi o bastante para fazê-la estourar. Tavares chama alguns homens para esvaziá-la. Os homens encontram ossadas de crianças. Era o total de 7 ossadas. O ocorrido espantou a Campos. A cidade não falava em outra coisa. A polícia técnica verificou que eram ossadas de mais de 70 anos. Como a coisa não tinha como ser investigada o caso foi arquivado. Tavares, a princípio, ficou chocado, mas, logo se esqueceu do ocorrido e levou sua vida adiante.

Certa noite Tavares estava vendo os livros da estante que ficava no seu escritório que era um espaço amplo. A mobília era um birô, duas cadeiras e uma poltrona que dava para a janela do segundo andar. Ao pegar uma enciclopédia da estante. Abre-se uma porta que Tavares não fazia a menor ideia que existia. A porta dava para um quarto secreto anexo ao escritório. Tavares se recorda da chave que fora encontrada e a usa para abrir a porta estranha. Lá dentro Tavares se deparou com uma grande mesa com vários livros esotéricos sobre ela. Tavares pega um livro cujo conteúdo discorria sobre como invocar os 72 demônios da Goécia: “Abra o pentagrama numa sexta feira treze de lua máxima”. Era isso que dizia a introdução do capítulo sobre Bafomet. “Ah, então, as ossadas eram de crianças sacrificadas a este culto”. Pensou o jovem negociante. Tavares tomou o livro para ler. Sentado na poltrona que dava para janela o homem devorou o livro em algumas horas: “Invocando Bafomet, todo homem se torna senhor de seu destino”. Assim terminava a obra esotérica.

Depois que Tavares leu o grimórium de Bafomet sua vida mudou. O rapaz passou a ter insônia, a ouvi vozes pela casa, e uma vontade compulsiva de pôr em prática as magias do livro satânico. Frequentemente ele ouvia uma voz cansada dizer: “Faça um pentagrama dentro de um círculo de madeira de lei”. Tavares tentou fingir que tudo estava bem, mas, não estava. Os fregueses sumiram, e sua saúde psíquica estava se enfermando. Então, exausto de andar pela casa, certa noite, ele fez um pedido a Bafomet: “Devolva-me tudo que perdi e eu faço a magia”. No outro dia pela manhã, uma senhora encomendou uma dezena de cosméticos para vender no povoado Capitoa: “Toda segunda, seu Tavares, eu venho pegar mais coisas maravilhosas”. As pessoas tornaram a comprar a Tavares e a casa voltou a ser frequentada. Desta forma Tavares decidi fazer o pentagrama.

Na marcenaria de Clodoaldo, Tavares encomendou um círculo de madeira de cedro de um metro de raio e um centímetro e meio de espessura. No quarto anexo ele segue as instruções do livro: Os símbolos cabalísticos deveriam ser pintados com tinta consagrada com o banho de sol e de lua por três dias. Ele deveria tirar seu próprio sangue e aspergir a peça sinistra numa segunda feira de lua cheia. O comerciante Tavares fez tudo como mandava o livro e esperou o momento certo para realizar o ritual.

Foi numa segunda feira que o rapaz fez o trabalho e evocou o espírito Bafomet que prontamente se materializou diante dele dizendo: “O que você deseja humana criatura?” O rapaz, com muita fé pediu para ser rico. Em um ano Tavares se tornou o homem mais bem sucedido de Campos. Desta forma o rapaz continuou a fazer pedidos. Mulheres, sucesso, tudo que ele desejou o foi concedido. Tavares estava nas nuvens. O rapaz viajou o país inteiro e foi para o exterior visitar outros países. Tinha ouro e joias preciosas.  Contudo continuava um homem solitário.

Numa madrugada de quinta feira Bafomet aparece para ele no pentagrama. O espírito maligno havia vindo cobrar o sacrifício que todos deviam fazer: Uma criança de sete meses deveria ser morta e o sangue ingerido por Tavares. Agora o rapaz dos cosméticos estava numa situação difícil. “Mas isso é um crime como posso concordar com isso”. Bafomet, então, diz: “Dê seus pulos, senão em sete semanas eu tomarei de volta tudo que te dei”. Tavares não queria perder as coisas e a vida que tinha, mas, ao mesmo tempo sua consciência dizia que matar era crime. O rapaz ficou no impasse por um tempo até o dia em que Lility lhe aparece.

No esoterismo pagão Lility é a mulher de Adão, a assassina de crianças. Lility lhe explica que ele devia ativar o lado feminino da magia e com isso se tornar um bruxo poderoso: “Não se preocupe eu trago a criança até você. Sete dias se passaram, e numa sexta feira bate na porta de Tavares uma enfermeira de Lagarto que trabalhava na maternidade São Lázaro: “Moço, minha mãe enviou-me até você. Eu te trarei a criança. Na próxima sexta feira treze você fará o ritual”. A mulher era linda. Tavares se anima e faz amor com ela no quarto do pentagrama. Seu sémen é derramado na boca da mulher que em estado de transe ingere o liquido da vida.

Após aceitar o sacrifício, o comerciante de cosméticos é visitado por entidades espirituais. O rapaz passa a ver o mundo astral e a se relacionar com ele. Com isso, o dinheiro entrava com toda facilidade. Os políticos de Campos o convida para sair candidato a prefeito nas próximas eleições: “Tavares, você é o nosso homem”. Tavares realiza o sacrifício no dia e hora acertada com Lility. O sangue da criança foi derramado numa vasilha inox e ingerido pelo comerciante. O corpo da criança negra foi posto na fossa. Após o sacrifício, alguns meses depois, o comerciante é eleito prefeito de Campos. Todos os anos ele oferecia um inocente a Bafomet e sua esposa.

Tudo ia bem para Tavares. Dinheiro, fama, mulheres e poder político. O homem era bem-quisto em Campos. Contudo, ele percebeu que havia algo errado. Tavares sentiu a necessidade de ter uma esposa e gerar filhos. Os espíritos protestaram contra ele dizendo que isso não era possível, uma vez que a mulher não poderia saber de suas magias. Tavares se angustiou e decidiu deixar as práticas ocultistas: “Afinal, para que serve tudo isso se não posso ter uma vida normal?” Os espíritos se materializavam e se deitavam com o moço, mas isso não era o que Tavares queria. Tavares percebeu que ele era apenas um escravo dos espíritos para beber sangue inocente. Ele ficou realmente revoltado. Evocou Bafomet, mas, a resposta foi negativa. Tavares decide romper com tudo e ir embora de Campos deixando tudo para trás: “Quero minha vida de volta”. Ele repetia essas palavras todos os dias, entretanto, não tinha forças para sair da casa. Ele realmente era um prisioneiro da casa dos Coutos.

Tavares comprou gasolina e espalhou pela casa e depois tocou fogo. Mas nada ocorreu, a casa se defendia. Então, ele decide sair somente com a roupa do corpo. Tavares abre a porta da casa, olha para trás e diz agora vai dar certo. Uma boca enorme aparece na sala de frente para porta e engole o comerciante que desaparece na garganta do ser sinistro. As luzes da casa se apagam e um silencio tumular se instaura no lugar.

Um mês se passa. As pessoas perguntam por Tavares; ninguém sabia seu paradeiro. Lurdinha decidi entrar na casa e a encontra vazia. Não havia nenhum vestígio de Tavares. Suas coisas haviam sumido, os produtos que ele vendia, suas roupas, e objetos pessoais. Tudo havia sumido. Parecia que ninguém havia morado na casa: “Estranho”. Disse a moça. Alguns dias depois Lurdinha põe novamente a casa para alugar...

 

 

 

 

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